domingo, 22 de janeiro de 2012

É a passividade de não lutar que deve ser banida...

Quando leio os jornais ou ligo a Tv, sempre me questiono, sem pudor algum, o que realmente somos para tolerarmos tanta futilidade junta... É sempre a mesma coisa: uma mulher que ficou famosa por alguns dias, tirando fotos caseiras nuas e postando no twitter, alguém que estava sambando em alguma quadra de samba e “mostrou demais”, agressão a policiais, agressões de policiais, futebol, e um certo diretor de uma certa rede global de TV, falando sobre uma certo programinha, famoso neste ano por conta de uma certa notícia de estupro...
Esse liquidificador de falta de gosto me recordou o trecho do livro, que resolvi colar abaixo... Acho que não há muita diferença entre ser um escravo, como June descreve, e um bando de ouvintes, leitores ou telespectadores que se sujeitam a alimentar esse tipo de mídia, pois afinal de conta, a UOL, somente é UOL, porque nós, os consumidores, a tornamos UOL; a rede globo somente é rede globo, porque a tornamos rede globo; a política brasileira é vergonhosa, porque nós brasileiros deixamos ela se tornar vergonhosa...
Não é o ato de escravizar que deve ser combatido... É a passividade de não lutar que deve ser banida... Portanto... acho que o trecho abaixo nada mais é que uma dica...
Trabalhava com extrema compenetração, quando o diretor ingressou apressado trazendo-lhe uma denuncia sobre trabalho escravo em uma fazenda nos arredores da cidade. Recebeu a tarefa de acompanhar o trabalho da policia, junto ao local, com a missão de assegurar que os trabalhadores fossem encaminhados a instituições que pudessem ampará-los, ainda que provisoriamente.
Saiu da sede, mal prestando atenção no rapaz que a acompanhava. Chamava-se Heitor e havia ingressado na organização há poucos dias, razão pela qual conversaram muito pouco durante o trajeto que os levaria ate a fazenda.
Não foi nada fácil presenciar o horror da situação em que viviam os trabalhadores. Era uma fazenda de produção exclusivamente agrícola, onde toda a mão de obra era escrava. Homens e mulheres eram recrutados
dentre as inúmeras pessoas que vagavam nas ruas, sem destino ou esperança, através de promessas de uma vida digna.
Era uma escravidão tipicamente contemporânea onde, ao invés dos castigos corporais com chicotes, as pessoas eram presas através de dívidas intermináveis.
Normalmente, ao serem trazidos para o local, os fazendeiros cobravam o transporte, a comida e a moradia, de modo que esses indivíduos trabalhavam para pagar um debito, que aumentava todo o mês, pois o saldo do ganho, ardilosamente, nunca cobria as despesas.
A situação em que eles estavam era subumana. Moravam em barracos em meio as rocas, sem condições de higiene, saneamento, atendimento medico, entre outros. A policia autuou o proprietário em flagrante, enquanto os trabalhadores foram libertados e encaminhados a uma Instituição que os acolheria temporariamente.
June, no entanto, não se conformava com aquele absurdo. A maioria das pessoas não desejava sair daquela situação, tão pouco conseguiam perceber a escravidão em que se encontravam. A maioria vivia nas ruas, outros tinham perdido as famílias, suas casas e dignidade e viam naquele lugar a chance de possuírem comida e teto.
No fundo, eram seres humanos sem esperança e forca para buscar a transformação para si mesmos. Preferiam se colocar na dependência de alguém a ter que reconstruir a vida de modo independente, ainda que para isso ficassem privados da liberdade.
(Trecho do livro JUNE)

                                                                                                                                               Silva Rumin

2 comentários:

Graziella Mafraly disse...

Parabéns à autora.
Sucesso com o lançamento!
Abraço.

Lidiane Ster disse...

Um livro, pelo jeito mais crítico, para questionar algumas coisas que passam despercebidas. Essa escravidão que o livro fala, é realmente triste, escravidão as almas e mentes deles, eles nem sentem mais que são escravos. É pior que a escravidão do corpo. Sucesso em seu lançamento