Ontem a UOL publicou que a
Benetton encerrou a disputa com o Vaticano, através de uma “gorda” doação para
uma instituição de caridade católica, cujas cifras não foram divulgadas. Tudo
em decorrência da foto em que o papa Bento XVI aparece beijando a boca de um
imã, que gerou polêmica entre religiosos e não religiosos.
Realmente, acredito que
não ser politicamente correto expor pessoas públicas sem autorização,
especialmente uma liderança religiosa como o Papa.
Mas se a gorda doação
feita pela Benetton gerou uma certa vitória moral, que veio a limpar a imagem
do catolicismo, em dias tão difíceis, eu me pergunto, quem se habilitaria a
pagar para limpar a imagem de Jesus Cristo?
Dizem que Cristo ficou
famoso por sua mensagem de amor; outros dizem que ficou famoso por sua morte
sofrida; alguns que ele é famoso por ter nascido de concepção divina; outros
dizem que ficou famoso, apenas por ser vontade de Deus...
Especulações à parte, a
mensagem de amor de Cristo não inovou em nada o que homens como Spartacus,
Sakyamuni, Sócrates entre outros morreram para nos deixar... Também não podemos
entender que Cristo ficou famoso por ter sido executado através da
crucificação, especialmente numa época em que qualquer rebelde preso era
condenado a morrer por esse mesmo castigo...
Por outro lado, acho
difícil crer que Cristo tenha tido uma concepção mágica, surreal e
completamente fora dos padrões naturais, como foi a concepção do herói grego
Perseu, ou de Aquiles, ou até mesmo dos remotos imperadores romanos, que se
consideravam descendentes de linhagens divinas... Sobre a vontade de deus...
tenho cá minhas reservas, pois desde os tempos primordiais do catolicismo, os
homens vem entendendo como vontade de Deus muita coisa humana e injusta, especialmente
aquelas que não tínhamos como explicar de modo razoável...
Não... Jesus ficou famoso
e tornou-se o maior de todos os rebeldes da face da terra quando disse que era
o filho do homem e que todos os homens eram seus irmãos! Ah sim... Isso parece
por demais trivial hoje em dia... tanto que nem nos importamos com essa
verdade, escondida entre as difíceis e intricadas palavras bíblicas e os livros
de história.
Mas àquela época, os
homens não rezavam diretamente a Deus, pois Deus era visto como um homem de
poderes sobrenaturais, igual o Zeus retratado em “Fúria de Titãs”. Como lidar
com alguém que tinha poderes mágicos de interferir no rumo de nossas vidas, mas
que também estava sujeito ao ódio, ao sentimento de vingança e a toda a sorte
de sentimentos humanos?
Pois é... Somente homens
de autoridade se arrogavam no direito de se auto intitularem como filhos de
deus, como os “césares” romanos, os imperadores chineses e o japoneses... Ser
filho de deus, para o populacho daquele tempo, era o mesmo que dizer que sua
mãe havia tido relações com um deus... Vejam só!
Imaginem o intenso estado
de pânico que as pessoas tinham desse “deus”... Se não déssemos suas esmolas,
se não lhe sacrificássemos nossos melhores animais ou lhe déssemos um bom
quinhão de nossas colheitas, que mal poderia abater-se sobre nós ou nossa
família? Nossas esposas poderiam ficar estéreis; uma geada poderia destruir
toda a colheita; as doenças nos atacariam com facilidade... Então, íamos aos
templos, queimávamos nossos incensos, fazíamos nossas doações, tudo para que esse
deus nos favorecesse...
Quando Cristo revelou ao
mundo que era filho do homem e que todos os homens eram seus irmãos, não se
colocou na posição de homem-deus... Jesus apenas revelou ao mundo que a
divindade maior do universo não era nossa inimiga, mas também não era inimigo
daqueles que eram diferentes de nós... Jesus apenas deixou dito que todos,
independentemente do modo como nos comportávamos, vivíamos ou das crenças que
alimentávamos, éramos (e somos) filhos de um mesmo pai e, como tal, irmãos... Essa,
de fato, era a mensagem pela qual valia a pena morrer...
Mas... em nome de Jesus...
cristãos mataram pagãos; por descrença em Jesus, pagãos mataram cristãos...
Cruzados imolavam mulçumanos, com as bênçãos de muitas autoridades religiosas,
que pregavam abertamente que “matar um infiel não era pecado, mas sim a chave
para ida ao reino dos céus”... De todos os lados, pagãos, cristãos, mulçumanos,
entre outros, matavam-se e cada um invocava a “vontade de deus”... Sem contar a
áurea época da Santa Inquisição (que de santa não tinha nada)...
Não me lembro, de modo
algum, que Jesus tenha dito que pessoas diferentes deviam ser queimadas
vivas... Mas, apenas para que isso não soe como um ataque a essa ou aquela
religião, também duvido muito que usar uma burca seja vontade de Alá, ou que
matar em nome dele seja um ato religioso... Tudo se resume em invocar a vontade
de deus, para justificar a minha vontade... ou pior... invocar a vontade de
deus, para justificar o maior de todos os atentados: tirar a liberdade de
outras pessoas! Isso, sim, soa demasiadamente humano... e não divino!
O fato é que mais de dois
mil anos após a morte de Jesus de Nazaré, a humanidade fez de tudo invocando
seu nome, menos por em prática a mensagem universal de que todos somos filhos
de Deus e irmãos uns dos outros... Aliás, com todo o respeito... o dogmatismo religioso,
em si mesmo, é mais que um entrave à mensagem de Jesus. É um verdadeiro
insulto... que vem se arrastando, miseravelmente, por toda história humana...
Portanto, continuo
pensando... Quem irá pagar para limpar a imagem de Jesus Cristo? Se a Benetton
doou um valor para “desculpar-se” pelo uso “indevido” da imagem do Papa Bento
XVI... na minha modesta opinião... alguém deveria doar um “gordo” valor ao
mundo inteiro, especialmente àqueles que realmente sofreram ou sofrem em razão
do dogmatismo religioso, para remediar o lodo que foi jogado na imagem de Jesus
Cristo... e, principalmente, na sua mensagem.
Silva Rumin
Silva Rumin
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