domingo, 28 de abril de 2013

O poder da palavra e “A menina que roubava livros”


“Era uma vez um homenzinho estranho que decidiu três detalhes importantes sobre sua vida:
1. Ele repartiria o cabelo do lado contrário ao de todas as outras pessoas.
2. Criaria para si mesmo um bigode pequeno e esquisito.
3. Um dia, ele dominaria o mundo.
O homenzinho perambulou por muito tempo, pensando, fazendo planos e procurando descobrir exatamente como tornaria seu o mundo.  E então, um dia, saído do nada, ocorreu-lhe o plano perfeito. Ele viu uma mãe passeando com o filho. A horas tantas, ela repreendeu o garotinho, até que ele acabou começando a chorar. Em poucos minutos, ela lhe falou muito baixinho, e depois disso ele se acalmou e até sorriu.
O homenzinho correu até a mulher e a abraçou. “Palavras!” e sorriu.
“O que?”
Mas não houve resposta. Ele já se fora.
Sim o Führer decidiu que dominaria o mundo com palavras. “Jamais dispararei uma arma”, concebeu. “Não precisarei fazê-lo.” Mesmo assim, não se precipitou. Reconheçamos nele ao menos isso. Ele não tinha nada de burro. Seu primeiro plano de ataque foi plantar as palavras em tantas áreas de sua terra natal quantas fosse possível.
Plantou-as dia e noite, e as cultivou.
Observou-as crescer, até que grandes florestas de palavras de palavras acabaram crescendo por toda a Alemanha. Era uma nação de pensamentos cultivados.”
Esse trecho do livro “A menina que roubava livros”, de Markus Zusak, resume de maneira simples e lúdica a expressão popular de que “palavra tem poder”, pois realmente, toda e qualquer reação que esboçamos dentro de nós e as que provocamos nas pessoas, em 99% das ocasiões, acredito eu, têm origem nas palavras que emitimos.
Acredito que, por isso, para mim esse livro foi uma surpresa do começo ao fim. Já havia lido inúmeras obras sobre o período da segunda guerra mundial, sobre o nazismo, sobre o extermínio em massa que resultou dos regimes totalitários à época, mas nunca, até então, havia lido algo escrito segundo a ótica do povo alemão. E é justamente dessa perspectiva que o autor busca contextualizar os personagens.
O livro fala de uma Alemanha bem diferente daquela representada pelos cartazes de Hitler, em posição de “deus-nazista”, que vemos nos livros de história. Fala de uma Alemanha mais humana, sofrida e, em muitas ocasiões, silenciada pela repressão das palavras do “grande pai” que os dominou através de símbolos, desfiles e muitas, muitas palavras de encorajamento.
É como disse o Mestre Meishu-Sama, em seu livro “Alicerce do Paraíso”, volume 4, “Irritar as pessoas ou fazê-las rir, preocupá-las ou tranquilizá-las, entristecê-las ou alegrá-las, provocar conflitos ou paz, obter sucesso ou insucesso, tudo depende do espírito da palavra.”
Esse livro, acima de tudo, veio chamar minha atenção para o modo como falamos às pessoas e a me policiar nisso. Afinal de contas, que tipo de reação estamos causando? Será que estou falando de modo leviano ou será que entendo meu papel junto ao meu circulo de convivência? Estou interagindo, realmente, ou apenas reagindo?
Indico esse livro não somente pelo enriquecimento em termos de história, mas também como uma espécie de auto-avaliação! Espero que curtam tanto como eu!
Silva Rumin

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