“Era
uma vez um homenzinho estranho que decidiu três detalhes importantes sobre sua
vida:
2.
Criaria para si mesmo um bigode pequeno e esquisito.
3.
Um dia, ele dominaria o mundo.
O
homenzinho perambulou por muito tempo, pensando, fazendo planos e procurando
descobrir exatamente como tornaria seu o mundo. E então, um dia, saído do nada, ocorreu-lhe o
plano perfeito. Ele viu uma mãe passeando com o filho. A horas tantas, ela
repreendeu o garotinho, até que ele acabou começando a chorar. Em poucos
minutos, ela lhe falou muito baixinho, e depois disso ele se acalmou e até
sorriu.
O
homenzinho correu até a mulher e a abraçou. “Palavras!” e sorriu.
“O
que?”
Mas
não houve resposta. Ele já se fora.
Sim
o Führer decidiu que dominaria o mundo com palavras. “Jamais dispararei uma
arma”, concebeu. “Não precisarei fazê-lo.” Mesmo assim, não se precipitou.
Reconheçamos nele ao menos isso. Ele não tinha nada de burro. Seu primeiro
plano de ataque foi plantar as palavras em tantas áreas de sua terra natal
quantas fosse possível.
Plantou-as
dia e noite, e as cultivou.
Observou-as
crescer, até que grandes florestas de palavras de palavras acabaram crescendo
por toda a Alemanha. Era uma nação de pensamentos cultivados.”
Esse trecho do livro “A menina que roubava livros”, de Markus
Zusak, resume de maneira simples e lúdica a expressão popular de que “palavra
tem poder”, pois realmente, toda e qualquer reação que esboçamos dentro de nós
e as que provocamos nas pessoas, em 99% das ocasiões, acredito eu, têm origem
nas palavras que emitimos.
Acredito que, por
isso, para mim esse livro foi uma surpresa do começo ao fim. Já havia lido
inúmeras obras sobre o período da segunda guerra mundial, sobre o nazismo,
sobre o extermínio em massa que resultou dos regimes totalitários à época, mas
nunca, até então, havia lido algo escrito segundo a ótica do povo alemão. E é
justamente dessa perspectiva que o autor busca contextualizar os personagens.
O livro fala de uma
Alemanha bem diferente daquela representada pelos cartazes de Hitler, em
posição de “deus-nazista”, que vemos nos livros de história. Fala de uma
Alemanha mais humana, sofrida e, em muitas ocasiões, silenciada pela repressão
das palavras do “grande pai” que os dominou através de símbolos, desfiles e
muitas, muitas palavras de encorajamento.
É como disse o Mestre
Meishu-Sama, em seu livro “Alicerce do Paraíso”, volume 4, “Irritar as pessoas
ou fazê-las rir, preocupá-las ou tranquilizá-las, entristecê-las ou alegrá-las,
provocar conflitos ou paz, obter sucesso ou insucesso, tudo depende do espírito
da palavra.”
Esse livro, acima de
tudo, veio chamar minha atenção para o modo como falamos às pessoas e a me
policiar nisso. Afinal de contas, que tipo de reação estamos causando? Será que
estou falando de modo leviano ou será que entendo meu papel junto ao meu
circulo de convivência? Estou interagindo, realmente, ou apenas reagindo?
Indico esse livro não
somente pelo enriquecimento em termos de história, mas também como uma espécie
de auto-avaliação! Espero que curtam tanto como eu!
Silva Rumin
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