Frida olhava a televisão, mal
acreditando na reportagem que mostrava homens e mulheres, maltrapilhos, morando
em meio a um casarão escuro e sujo, no meio do mato, sendo libertados da
escravidão pela polícia. Então era isso? Ainda existiam escravos?
Olhou a fisionomia do pai. Em seu
rosto, não havia aparência de surpresa. Será que ele já sabia que ainda
existiam escravos? Na escola, desde os primeiros anos, ensinavam que a
escravidão já havia acabado há muito tempo e que todos os homens eram livres,
de modo que se sentia totalmente confusa diante dessa nova descoberta.
_ Não sei filha... _ respondeu
sem tirar os olhos do televisor _ Acho que essas pessoas foram enganadas...
_ Como é que uma pessoa pode se
tornar escrava por engano? _ indagou ainda mais curiosa.
_ Bem... São pessoas que estão
passando por necessidades e, enganadas por falsas promessas, são levadas para
outros países ou para o interior de fazendas onde são obrigadas a trabalhar a
troco de comida, por exemplo...
_ E por que alguns homens
escravizam outras pessoas? _ indagou perplexa.
O pai virou-se para a menina um
pouco assombrado por se ver acuado pela aquela repentina curiosidade. _ Isso eu
não sei filha... Não sei o que faz os homens agirem desse modo tão cruel.
A menina emudeceu junto com seus
pensamentos mais íntimos, enquanto terminava de assistir a reportagem. Dizia-se
que se escravizavam pessoas para serem exploradas para tudo: prostituição, para
trabalho em lavouras, para trabalho em carvoarias. Mas como poderia existir uma
coisa dessas no mundo?
O pai, por sua vez inquietou-se.
Como explicar aquela terrível realidade no mundo atual onde o civilizado e o
animalesco conviviam paralelamente? Como explicar que tudo o que era aprendido
nas escolas sobre liberdade, fraternidade e igualdade não passava de um sonho
poético, que fez com que os homens recaíssem numa confortável ilusão de que se
tornaram mais civilizados?
O pai não sabia o que era mais
cruel: ser escravizado ou escravizar. Ambos, escravos e escravizadores
conviviam com a ausência de liberdade. Os primeiros eram enganados por falsas
promessas e deixavam-se escravizar por ilusões, muito embora na maioria das
vezes conservassem sua liberdade intacta dentro de si. Os segundos, no entanto,
eram os piores tipos de escravos, pois eram aqueles que se julgavam livres,
quando em realidade viviam escravizados pela ambição e por ideias de que tudo
valia à pena desde que suas contas bancárias estivessem cheias de uma ilusão
chamada dinheiro.
Pobre mundo moderno, cada dia
mais repleto de escravos...
Silva Rumin
Nenhum comentário:
Postar um comentário