domingo, 30 de março de 2014

ADMIRÁVEL MUNDO MODERNO

Frida olhava a televisão, mal acreditando na reportagem que mostrava homens e mulheres, maltrapilhos, morando em meio a um casarão escuro e sujo, no meio do mato, sendo libertados da escravidão pela polícia. Então era isso? Ainda existiam escravos?
Olhou a fisionomia do pai. Em seu rosto, não havia aparência de surpresa. Será que ele já sabia que ainda existiam escravos? Na escola, desde os primeiros anos, ensinavam que a escravidão já havia acabado há muito tempo e que todos os homens eram livres, de modo que se sentia totalmente confusa diante dessa nova descoberta.
_ Papai... Por que existem escravos?
_ Não sei filha... _ respondeu sem tirar os olhos do televisor _ Acho que essas pessoas foram enganadas...
_ Como é que uma pessoa pode se tornar escrava por engano? _ indagou ainda mais curiosa.
_ Bem... São pessoas que estão passando por necessidades e, enganadas por falsas promessas, são levadas para outros países ou para o interior de fazendas onde são obrigadas a trabalhar a troco de comida, por exemplo...
_ E por que alguns homens escravizam outras pessoas? _ indagou perplexa.
O pai virou-se para a menina um pouco assombrado por se ver acuado pela aquela repentina curiosidade. _ Isso eu não sei filha... Não sei o que faz os homens agirem desse modo tão cruel.
A menina emudeceu junto com seus pensamentos mais íntimos, enquanto terminava de assistir a reportagem. Dizia-se que se escravizavam pessoas para serem exploradas para tudo: prostituição, para trabalho em lavouras, para trabalho em carvoarias. Mas como poderia existir uma coisa dessas no mundo?
O pai, por sua vez inquietou-se. Como explicar aquela terrível realidade no mundo atual onde o civilizado e o animalesco conviviam paralelamente? Como explicar que tudo o que era aprendido nas escolas sobre liberdade, fraternidade e igualdade não passava de um sonho poético, que fez com que os homens recaíssem numa confortável ilusão de que se tornaram mais civilizados?
O pai não sabia o que era mais cruel: ser escravizado ou escravizar. Ambos, escravos e escravizadores conviviam com a ausência de liberdade. Os primeiros eram enganados por falsas promessas e deixavam-se escravizar por ilusões, muito embora na maioria das vezes conservassem sua liberdade intacta dentro de si. Os segundos, no entanto, eram os piores tipos de escravos, pois eram aqueles que se julgavam livres, quando em realidade viviam escravizados pela ambição e por ideias de que tudo valia à pena desde que suas contas bancárias estivessem cheias de uma ilusão chamada dinheiro.
Pobre mundo moderno, cada dia mais repleto de escravos...

Silva Rumin

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