domingo, 9 de dezembro de 2018

ECOS


Passos, vozes, agitação.
Vida. Risadas. Vidas.
Mas a tristeza, em mim, é contínua,
Como se estivesse à parte de tudo,
Apenas contemplando.

Um vazio, repleto de ecos.
Ecos de abraços retidos;
Sorrisos falseados,
Cobranças, autocobranças, exaustão.
Seja bom, para que possa ser amado.
Sorria, para que possa ser bem tratado,
Ainda que por dentro esteja partido.
Presa a uma bolha de “senões”,
Passo pela vida em um “talvez”,
Almejando liberdade.
A destruição de todas as algemas,
Que o julgamento alheio,
Um dia impôs a mim.
Por que foi tão fácil crer nessa mentira,
De que o melhor é seguir “os outros”?
Ninguém sente o que sinto,
Ninguém me conhece como me conheço,
Ninguém me amaria, como eu me amo.
Mas todos querem que sejamos normais,
Normais aos olhos dos outros.
“Outros” que são desconhecidos,
Intransigentes, assustadores, opressores.
Uma sombra que pesa em minhas costas,
Roubando sonhos, poderes, vidas.
Passos, vozes, agitação.
Vida. Risadas. Vidas.
Quem sou eu em meio a isso tudo?
Uma voz, um corpo, um título?
Por que o que importa aos outros,
Tornou-se tão essencial a mim,
Mesmo diante do massacre do meu eu?
Quando se busca a aceitação dos outros,
Qualquer esboço de personalidade,
Soa como um pedido de permissão,
Sujeito a ser denegado, rasgado, banido.
E quem é mais cruel?
Quem julga, aponta, fere,
Ou quem encolhe a si mesmo pelo medo?
Passos, vozes, agitação.
Vida. Risadas. Vidas.
Nada.
Somos pó, debatendo-se em arrogância.
Tolhemos a nós mesmo,
Confusos, por medo uns dos outros.
E o que importa tantos julgamentos,
Se no final de tudo,
Tornamos ao pó de onde nascemos?
Tudo se torna nada.
Um vazio cheio de formalidades,
Que encobrem, como uma ilusão,
A verdade que fingimos não ver:
Somos opressores de nós mesmos.
Torturadores, agressores,
Prisioneiros e vítimas de si próprio.
Nadas que preenchem tudo,
Com ilusões de certo e errado,
Normal ou anormal,
Céu e inferno,
Claridade e escuridão.
Um emaranhado de passos apressados,
Vozes, agitação, ilusões.
Vida. Risadas, lágrimas.
Eclipsada pela morte.
O ponto final de todos.
O desfecho de tudo,
Dos passos, das vozes, das agitações,
Da vida, das risadas, das vidas.
G. P. Silva Rumin

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