domingo, 28 de abril de 2019

SOB O SOL E SOB A LUA

O mundo encara-me.
É um olhar de expectativas,
Deitadas sobre mim em cobranças.
Um mar de olhos, bocas, sonhos.
Um som alto de gritos e imprecações,
Elogios e risadas de galhofa.

Visto uma máscara.
Um espectro que encobre outro espectro.
E no desespero de ver-me encarada,
Apontada e rotulada,
Ser espectro é benção e maldição.
Sou eu e não sou eu.
É acordar toda manhã, fatigada,
Na certeza de que tudo se repetirá.
Nada muda sob o sol ou a lua.
E, então, indago-me.
Como você rompeu isso,
Apenas com um olhar lânguido?
Porque, ali, defronte a você,
Minhas máscaras desabaram.
Fui desnudada, hipnotizada e enfeitiçada.
Porque, ao estar com você,
Não existiam mundos, convenções,
Medos, hipocrisias, falseamentos.
Desnuda, levantei minha face,
Estapeando todos que me encurralaram.
Enfrentei, discursei, chorei,
Fomentei revoluções...
Alterei meu próprio curso...
Mas você era parte da plateia...
Queria a máscara que usei...
E sem ter controle de nada,
Vi-me presa em uma cobrança pior.
Pior que todas as expectativas que carreguei...
Fui presa à ilusão que vesti,
E que você amou...
Mas seu amor, era realmente amor?
Meu amor, era realmente amor?
Não sei...
Já não carrego mais expectativas,
Minhas ou do mundo,
Sob o sol ou sob a lua...
Já não tenho mais você,
Se é que um dia tive...
Tenho a mim, somente,
A mulher desnudada diante de tudo,
Até de suas próprias máscaras.
G. P. Silva Rumin

Nenhum comentário: