Obrigavam-me
a limpar a casa;
a
lavar pratos;
a
colecionar enxoval...
Meu
coração queria livros.
A
sociedade queria-me mulher;
mulher
submissa, sem voz;
sufocada
em máscaras impostas...
E,
então, briguei...
Gritei
por meus livros;
apanhei
por desafiar essa ordem....
E,
por desafiar a ordem,
recebi
milhões de “não te aceito”,
repletos
de ironias...
Deboches
de quem deveria me amar...
Tentaram-me
obrigar a ser doméstica.
Lugar
de preta é nos trabalhos manuais,
assim
disseram-me...
Vá
para a roça, diziam uns;
Seja
doméstica, diziam outros.
Mas
meu querer almejava livros;
Impulsionava-me
a ser doutora das leis.
E,
então, briguei.
Novamente
apanhei.
E
não foi um simples “apanhar”.
Eu
apanhei no lugar de muitos;
Especialmente
daqueles que sonham...
E
fui vista com pessimismo.
O
pessimismo dos que julgam-se sábios;
senhores
de uma razão natimorta.
Uma
razão que nos quer inertes,
com
fundamento, único, em nossa cor...
Mas
por que o sonhar do negro é tão intimidador?
Não
sei...
E
nessa falta de saber,
não
me deixei ser atada à senzala...
Aí
tentaram me obrigar a um casamento de aparências.
Teria
véu, grinalda, almoço aos domingos.
Mas
eu queria livros e o amor das poesias.
E,
então, eu briguei.
E,
novamente, apanhei.
Mas
quando estive mais machucada,
Especialmente,
pelas palavras dos outros,
reergui-me
com meus discursos.
Palavras
que insuflam;
constroem
e destroem...
Tornei
apanhar...
Mas
diante de minhas cicatrizes notei
que
jamais conseguiria esconder-me.
Em
meio a crendices e costumes,
sei
que é melhor esconder-se,
usando
o manto social do faz de conta.
Mas
esconder-se é dor... É tortura...
Sou
mulher e quero direito a escolhas...
Sou
negra e não pertenço à senzala...
Sou
gay e meu amor é libertação...
Pois
no final de todas essas roupagens,
o
que somos nós, senão, humanos?
Todos,
absolutamente, todos,
simplesmente
humanos...
G. P. Silva Rumin
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