Não foi nada
calculado, quando meus olhos se fixaram em você. Eu estava no restaurante, em
uma mesa pequena, cercada de cadeiras vazias, enquanto você estava bem longe,
sentada de lado, com muitos amigos à volta, rindo e conversando.
Lembro-me de ter
pensado que nunca tinha visto mulher mais linda e ao mesmo tempo mais simples,
em toda minha vida, quando então, num gesto involuntário e nada discreto, você
colocou a mão por dentro da blusa e acertou a alça do sutiã.
Recostei minhas
costas na cadeira, tentando observá-la melhor, e, sem querer eu sorri meu
melhor sorriso de admiração, sem me importar com os olhares estranhos e
curiosos ao redor de mim. Seu gesto me pareceu ainda mais lindo, se é que isso
fosse possível, afinal de contas, qualquer mulher bonita, com coragem de fazer
aquilo em público, ganharia meu respeito para sempre.
Deixei o restaurante
pensando no quanto sua beleza era, de fato, real e autêntica. Não me refiro ao
padrão photoshop que os homens de
agora, com imaturidade de meninos, buscam nas baladas. Não. Você é muito mais
que uma mera panicat, dessas
retocados por academias, suplementos alimentares ou cirurgias estéticas. Tem
algo oniricamente extraordinário envolvendo-a. Algo que me hipnotiza desde
aquele dia no restaurante, há uns dois ou três anos atrás.
Desde então, cada vez
que passa por mim, com seu ar preocupado e alheio a mortais como eu, tudo em
mim entra em ebulição, num profundo desejo de me desdobrar por ter uma única oportunidade
de conversarmos. Porém, a timidez me domina sempre e quando penso em dizer
algo, mal consigo esboçar um “oi” ou até mesmo um aceno com a cabeça.
Mas não a culpo por
não notar minha existência. A maioria das mulheres talvez não se sinta
confortável em saber desse tipo de sentimento nutrido por uma outra mulher e,
por não raras vezes, minha psicologia complicada e perdida, me encurrala em
pensamentos de culpa, tão cruéis como desejar tudo de bom e mais puro a você,
sem poder fazer absolutamente nada.
Nada disso tira o
fato de que enxergo o extraordinário dentro de você, algo acobertado por sua
beleza exterior e que poucas pessoas, hoje em dia, têm o dom de desvendar. Isso
talvez seja coisa de escritor, desses metidos a poeta, como eu, que enxergam tudo
dentro de rimas.
Sei, porém, que você
também não tem ninguém, muito embora esteja sempre cercada de bons amigos. E
quando me deparo com essa sua realidade, tão clandestina como a minha,
indago-me como seria se você tivesse olhos para enxergar o extraordinário que
existe dentro de mim e o mundo que gostaria de compartilhar com você. Será que
me rejeitaria? Fico triste quando me deparo com essa questão, cuja resposta
talvez eu nunca saiba.
G. P. Silva Rumin
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