terça-feira, 24 de novembro de 2020

O ACORDAR

 

Um olhar.

Um sorriso.

Um beijo e alguns “eu te amo”.

E tudo basta para um romântico.

Sonhar acordado.

Diálogos apaixonados,

travados em sua mente,

em madrugadas insones.

Flores e sorrisos;

tórridas noites de amor,

e algumas manhãs chuvosas.

Lembranças de perfumes,

carinhos, corpos misturados.

Um redemoinho de visagens,

centrifugado em sua mente.

O irreal mescla-se ao real.

A ilusão torna-se verdade.

E a guerra pela vida inicia-se.

A luta para transmutar a mentira em realidade.

E para um apaixonado sonhador

nem mesmo o abismo é limite.

Mas o limite... sempre está lá...

Quando menos se espera, acorda-se...

Um acordar dolorido,

cheio de mágoas e vergonhas.

E a realidade dói...

Atuar em um filme, sozinho;

fazer amor, sozinho;

amar, sozinho;

sonhar, sozinho;

iludir-se, sozinho;

decepcionar-se, sozinho.

Porque o “eu te amo” que você diz

não é o mesmo “eu te amo” que recebe.

E cada um dá uma intensidade ao amor...

E cada um dá uma intensidade à ilusão do amor...

Um desnível entre o que se dá e o que recebe,

que jamais é preenchido...

E fecham-se almas...

Economizam-se beijos e abraços.

Escondem-se os “eu te amo”.

Envergam-se máscaras.

Criam-se tipos e personagens caricatos.

A caricatura do que um dia fomos,

esperando ser libertada.

E eis o grande enigma...

Nos escondemos do amor,

na busca de sermos libertados pelo amor...

Pois para nós o amor é tudo,

ainda que o neguemos...

Indago-me, mudamente,

qual a razão para falsearmos tanto?

Que beleza há em jogar-se com o amor?

E, pior, que beleza há em jogarmos com pessoas?

Um olhar, um sorriso,

um beijo e alguns “eu te amo”,

deveriam bastar.

G. P. Silva Rumin

(Poesia integrante do livro Kátharsis, disponível em amazon.com.br)

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