domingo, 18 de abril de 2021

É MEU TEMPO

 

Houve um tempo,

em que tempo não importava.

Caminhava destemida,

entre pinheiros e hibiscos,

brincando de ser adulta...

Acreditava que o mundo,

girava em torno do meu mundo,

e que poesia era o sofrer da arte.

Hoje dirijo em meio ao caos

brincando de ser adulta,

em um mundo que gira sem parar,

acelerando horas, dias e anos,

envelhecendo meu mundo de sonhos...

Houve um tempo, quando criança,

em que meus passos eram firmes.

Eu sabia por onde andava.

Queria ver o mar;

andar com o vento;

dar a volta pelo mundo;

cantar, dançar, escrever.

Houve um tempo, sim,

em que tempo era nada.

Pela janela do carro,

presa entre engarrafamentos,

recordo esse tempo,

questionando minha coragem.

Eu era uma adulta quando criança,

agora sou criança quando adulta.

Indefesa, vulnerável, saudosa.

Houve um tempo, glorioso,

em que achei que teria todo o tempo;

todo o tempo do mundo,

e que também teria o mundo.

Reuniões, problemas, contas,

estresse, vontades escondidas.

A vida no piloto automático.

Mas, penso eu, que ainda há tempo.

Tempo de lançar-me aos sonhos.

Tempo de ser tudo que posso;

tempo de ser tudo que mereço.

Por que não mereceria?

Quem disse que não mereço?

Pois sou um bem nesse mundo.

Sou luz, sou palavras, sou voz.

Sou amor, e quero tempo para amar.

Sou riqueza, quero abundância para gozar.

Sou compaixão, para mim e meus erros.

Ainda há tempo...

Tempo para andar destemida,

entre pinheiros, hibiscos ou carros,

vertendo vida, amor, sorrisos...

E anseio por esse tempo...

Um tempo sem passado ou saudades,

em que olho para trás e digo:

“Foi-se o tempo em que eu não tinha tempo,

em que eu era levada para tudo,

sem olhar para dentro de mim...

E foi-se o tempo sem tempo.

Foi-se o tempo do automático.

Foi-se o tempo em que eu era dirigida.

Agora é meu tempo.

Tempo de eu conduzir minha vida.”

G. P. SILVA RUMIN

(Poesia que integra o livro Kátharsis)

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