Meu cabeleleiro, Salvador Donegá, um
ótimo sujeito, diga-se de passagem, hoje me causou certa comoção, quando olhou
no fundo dos meus olhos e com a cara mais angelical do mundo disse, suavemente,
que havia chegado o momento de pensar com muita seriedade em usar um xampu
tonalizante para “disfarçar” o terrível mal que se alastra em minha “fauna”
capilar: fios completamente esbranquiçados.
Parafraseando o Lula, nunca antes em
toda a história de minha vida, até esse momento, pensei tanto na velhice.
Costumes que não consigo podar; frases do tipo “é pra acabar com o Goiás” ou
“pela madrugada” ditas numa roda de amigos; um sono funéreo que vem na final da
libertadores da américa, com seu time em campo. Seriam
sintomas de velhice? Aliás o que é o velho ou o novo?
Confesso que após muito pensar, cheguei
à conclusão de que o mundo está repleto de velhice, daquelas crônicas, que
contamina o ar e as pessoas de todas as idades, nacionalidades, religiões ou
etnias. Não é um número, uma moda, ou estado de espírito. É uma epidemia,
galopante, cujo antídoto ainda está escondido.
Quando eu era adolescente dizer
palavras como “sapatão”, “viado”, “desquitado”, “crente”, eram tabus. Os “mais
velhos” olhavam com a cara feia e nos recriminavam, com medo de que nos
tornássemos aquela palavra. Recordo, como se fosse ontem, de ver minha avó
tremer como “bambu” ao vento, quando eu cantava “like a prayer” da Madonna.
Pode parecer estranho, mas na época Madonna era coisa do “demonho”.
Mas aí veio a internet, a globalização,
espalhando informações, e a evolução rompeu limites até então intransponíveis.
Nas escolas começaram a obrigar os professores a respeitar a diversidade
psicológica, espiritual, sentimental, seja lá o que seja isso; nos lares, a
evolução econômica criou uma geração inteira de pais culpados, que se acham
responsáveis por dar aos filhos tudo que nunca tiveram antes, menos a educação;
nas ruas, meninos e meninas, pensam que brincar de carrinho ou de bonecas pode
ser uma posição do Kama-Sutra, perdida através do tempo; chorar à noite, já não
é mais birra, mas sim depressão crônica, resolvida através de dezenas de
comprimidinhos anti-depressivos colocados de modo singelo nas mamadeiras. O
cigarro que antes, era sinônimo de glamour, hoje é mais discriminado que o
próprio crack, pois ninguém nunca viu áreas das cidades chamarem
“cigarrolândia” ou “fumódromo”. O INPS virou SUS, mas a fila continua a mesma,
o que vem sendo copiado pelos hospitais particulares. Galvão Bueno já fala em
aposentadoria; Lula tirou a barba; o Brasil está sendo governado por uma
mulher; nosso Carnaval já não tem as mesmas bundas de antigamente...
Ah! Quanta saudade das bundas de
antigamente... Ninguém nunca tinha ouvido falar de silicone, na minha infância...
Hoje em dia lembrar-se de tudo isso nem
é mais velhice... É até bem visto e considerado um estilo de moda chamado de
“vintage”. Não, não. A doença da velhice é bem diferente. Os atacados por essa
doença manifestam sintomas dos mais variados... e agora dizer as palavras
“sapatão”, “viado”, “desquitado”, “preto”, “branco”, “amarelo”, é proibido, pois
fere os direitos humanos e o politicamente correto.
O problema é que não é um
“politicamente correto”, cheio de humanismo ou de respeito, mas sim uma expressão
vazia, que significa mais um “eu te tolero, porque estão dizendo que preciso te
tolerar e que é errado eu falar o que penso”. Ah sim... politicamente correto é
apenas uma máscara que esconde o preconceito sobre a capa de uma donzela
virgem, bem educada e, por isso, substituiu o tabu. São como as bundas da
atualidade cheias de silicone: algo palpável, bonito por fora e totalmente
falso por dentro.
Nas escolas contratam-se psicólogos
para atenderem crianças que sofrem bullyig, mas admitem que deputados e
senadores, proponham um projeto de lei para incluir homossexualismo como algo
tratável por psiquiatras; instituem-se cotas para negros, enquanto assistimos
torcedores espanhóis e russos praticando racismo contra jogadores negros dos
times adversários; os canais de TV incentivam rivalidades no futebol e depois
não entendem a razão pela qual pessoas se matam nos estádios.
E o que é o respeito à minorias? Para
começo de conversa, porque alguém tem de ser minoria? Acho que não há nada tão
velho que falar de minorias... é mais um rótulo colocado pelo politicamente
correto... O rótulo das minorias... Mas por que “sapatão”, “viado”,
“desquitado”, “crente”, “gordinho”, “nordestino”, etc, são considerados
minorias, se todos são seres humanos? Alguém ai já preencheu questionários do
IBGE se declarando minoria? Alguma mulher já foi ao ginecologista para receber
a notícia de que estava grávida de uma minoria?
Está aí algo que para mim é coisa do
“demonho”. Não sei se o “tinhoso” existe, mas se existe, acho que essa coisa de
minorias foi inventada por ele... Só Deus e o Diabo sabem o quanto o mundo
seria bem melhor se as pessoas parassem de se discriminarem mutuamente... O
politicamente correto, os tabus e até as bundas siliconadas, sob meu ponto de
vista, é coisa do “demonho”...
Pois é. Exagerei. Mas
acho que não estou tão velha assim... Disse ao Salvador que iria pensar no
tonalizante, mas acho que vou prolongar ao máximo os fios brancos... Melhor ao
natural... Infelizmente não podemos dizer o mesmo do Deputado Bolsonaro, da
bancada evangélica do Congresso, nem das bundas siliconadas que abrilhantam
nossa mídia tupiniquim... Nem todo o xampu tonalizante do planeta seria
suficiente para rejuvenecer esse pesse
pessoal...
Silva Rumin
2 comentários:
Olá.
Realmente, não é a gente que estar envelhecendo, é o mundo que estar mudando. E mudando muito rapidamente, na velocidade da luz. O que erra errado a um tempo atrás, atualmente é o correto, mais um correto maquiado.
Muito bom o tempo, gostei, voltarei sempre.
Beijos
Gostei do senso de humor para falar sobre coisas tão sérias. Eu costumo dizer que vivemos tempos hipocritamente corretos. É uma patrulha do "demonho", como você diz,he,he... Ótimo texto, Gisele!
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