quarta-feira, 23 de outubro de 2013

PEQUENOS GESTOS...

O sol estava quente naquele dia de verão e Gia olhava o movimento dos carros que ultrapassavam o ônibus que havia tomado e que se encontrava completamente lotado neste momento. Lançou um olhar aflito para as pessoas que se enroscavam por todos os espaços e sentia-se sufocada quando percebeu um senhor de pé, com dificuldades para se equilibrar.
Mesmo um pouco a contragosto, mas pensando no sofrimento do senhor, ofereceu em meio a gestos e murmúrios o seu lugar para que ele sentasse e foi com expressão de alívio que o senhor sentou, olhando espantado para aquela jovem menina que educadamente havia lhe feito um bem.
De repente ao fitar o ar despreocupado da menina, o senhor William tomou consciência do quanto o mundo necessitava de boas ações. Desembrulhou um chocolate e se pôs a mastigá-lo displicentemente, segurando, entre suas mãos a embalagem vazia sem saber ao certo o que faria dela. Quando desceu do ônibus, imediatamente fez menção de jogar a embalagem ao chão, mas pensou na atitude educada e solícita que Gia havia tido para com ele e decidiu caminhar um pouco mais até achar uma lixeira, o que realmente aconteceu.
Lucas estava quieto, mirando as pessoas pelas ruas, pensando em todas as coisas que faltavam em sua casa. Como alimentaria seus três filhos? Como poderia arrumar um emprego? Talvez ele pudesse furtar coisas e vendê-las, o que seria realmente fácil. Todavia, pensando nas vantagens que a criminalidade lhe traria, de repente seus olhos se fixaram num senhor, muito velho, com algo na mão caminhando até a lixeira e lá deixando um papel ou algo que não sabia identificar.
Nunca soube ao certo, mas o fato é que Lucas sentiu uma mensagem calar fundo em seu coração. Trocaria a honradez e a decência para viver à marginalidade? Se todas as pessoas que possuíssem dificuldades ingressassem por tal senda, o mundo realmente seria um inferno. Ser honesto sempre valeria à pena, mesmo que ele tivesse que levar uma vida igual àquele senhor: caminhar em meio a um amontoado de lixo, para fazer a coisa certa.
Quando Lucas chegou a casa, naquela noite, chamou seus filhos e esposa, e contou-lhes tudo o que havia aprendido naquele dia através do exemplo daquele senhor e todos os seus filhos sentiram os corações mais leves ao escutarem o entusiasmo de seu pai, que nos últimos dias encontrava-se muito triste.
Silas, o filho caçula de Lucas, foi dormir com a cabeça povoada de sonhos e lembrando-se da frase do pai “Façam a coisa certa, mesmo que vocês tenham que viver em meio ao lixo!!! Não é preciso se deixar contaminar pela sujeira”, tomou a resolução de um dia lutar para transformar o mundo num lugar melhor.
Aquele menino um dia tornou-se um homem, que desejoso de limpar todas as sujeiras do mundo, praticou inúmeras boas ações no sentido de ver concretizado os direitos humanos, trabalhando para combater a fome, defendendo o direito de tratamento digno a todos os doentes e atacando todos os motivos egoísticos que fundamentam as guerras.
Suas ideias começaram pequenas e foram se alargando com suas experiências e, à medida que aprendia, inspirou muitos homens, mulheres e crianças a lutarem pela limpeza de todas as sujeiras do mundo, e estes homens, mulheres e crianças inspiraram muitos outros mais a fazerem o mesmo, por onde quer que estivessem.

E Silas e todos os outros jamais imaginaram que a causa de mudança de seus destinos ocorreu num dia quente de verão, dentro de um ônibus lotado, onde uma jovem adolescente, chamada Gia, cedeu lugar ao senhor William para que ele se sentasse. Tão pouco Gia jamais soube quais as consequências de seu gesto perante o mundo, pois nunca percebeu que de um modo ou de outro todos estamos interligados e que um pequeno gesto seu poderia, de repente, mudar o curso de toda a história da humanidade.
Gisele Aparecida Pereira da Silva

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