domingo, 16 de fevereiro de 2014

INCONSEQUÊNCIA

É inconsciente.
Olho seu corpo nu.
Já não tenho em mim furor algum.
Nem desejo; nem repulsa.
Paira no ar um estranho tédio,
Silencioso, triste, taciturno,
Como uma música de separação.
Uma chuva fina molha a janela,
Deixando a madrugada fria.
Você suspira ruidosamente.
Sua pele está arrepiada.
Cubro-a enquanto penso no final.
Disseram-me que amor era para sempre.
Mas a vida, essa sábia cruel,
Tomou para si essa terrível incumbência,
De destruir minhas verdades mais profundas,
Dentre elas, o meu amor.
Passo o braço sobre você,
Sentindo o vazio culpar-me.
Inconsciente, num gesto de apego,
Agarro-me à rotina e à culpa,
Tentando impor a continuidade,
Mesmo diante de um ruidoso fim.
Redobro os afetos e as carícias,
Como se eu, uma frágil e estranha mortal,
Pudesse impedir essa força.
Não há nada de inconsciente.
Há requintes de ensaios e planos,
Arquitetados em cada gesto.
Torno-me então uma fingidora,
Incompleta, triste e paranoica.
Tudo em nome de uma mentira,
Uma mentira escrita em todos os finais,
Mesmo nos contos de fadas...
A mentira do “felizes para sempre”.
Silva Rumin

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