domingo, 2 de março de 2014

É TEMPO DE TRANSGRESSÃO

Era o ano 2000. Eu começava o terceiro ano de Direito. Havia um novo reitor e sua primeira medida foi aumentar as mensalidades, provocando intensos debates pelo Campus.
Por todos os lados ouviam-se discursos inflamados, tentando nos lembrar da geração de alunos, que protestou nas ruas contra a ditadura militar, enquanto nas televisões o povo assistia os Trapalhões.
Numa noite, resolveram fazer uma passeata, com carros de som, bandeiras e microfones, que culminou num verdadeiro contágio patriótico, quando os alunos da Faculdade de Direito chegaram. Infelizmente, o protesto não durou muito. Quando o sinal tocou, a maioria voltou para suas salas, inclusive eu. Afinal de contas, o que poderia eu fazer?
Meus pais, assim como a maioria brasileira, não estavam entre os que lutaram contra a ditadura. Eles trabalhavam nas roças e a única luta que travaram foi para dar uma vida digna para meus irmãos e eu, driblando a inflação, a falta de ensino, médicos e até mesmo a fome.
Com tantas preocupações, ninguém nunca pensava no que era voto, jornais, golpe militar, patriotismo ou protesto. Isso tudo era coisa estranha ao cotidiano dos meus pais e da maioria da população brasileira.
Ninguém sabia que era preciso mudar o Brasil. Ninguém sabia como mudar o Brasil. Acho que também é por isso que hoje, quando há protestos, os “black blocks” partem para a violência, do mesmo modo que partimos para uma crítica, sem conhecimento de causa. O problema do Brasil está no brasileiro e na sua falta de participação na construção desse país.
Minha geração ama Iron Maiden, Madonna, Beatles, mas não tem a menor idéia de quem é Chico Buarque, Cartola ou Elis Regina; idolatramos Harry Potter, Senhor dos Anéis, Cinquenta Tons de Cinza, mas não lemos Ariano Sussuassuna, Cecília Meirelles ou Machado de Assis. Torcemos por candidatos nas eleições americanas, mas somos incapazes de aprender a fiscalizar os candidatos que elegemos e, no final de tudo, adotamos a postura dos “black blocks” criticando e agredindo o Brasil, sem ao menos conhecê-lo.
Penso muito nisso. Como podemos mudar algo que não conhecemos? Por isso, hoje, decidi mudar o Brasil. Estou escutando mais MPB, lendo livros e assistindo filmes de produções nacionais. Também resolvi fazer bem diferente nas próximas eleições. Vou investigar os candidatos e estudar meios de cobrar a realização de suas promessas.

Sim! Acredito que assim vou mudar meu país, pois comecei a valorizar sua própria história. Não acho que estou sendo nacionalista e não deixei de apreciar outras culturas. Só estou transgredindo o costume que herdei: o de valorizar o resto do mundo, antes do meu país. Por isso digo que é tempo de transgressão. É tempo de construir um país melhor, me tornando, antes de tudo, um brasileiro melhor.
Silva Rumin

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