Era o ano 2000. Eu começava o terceiro ano de
Direito. Havia um novo reitor e sua primeira medida foi aumentar as mensalidades,
provocando intensos debates pelo Campus.
Por todos os lados ouviam-se discursos inflamados, tentando
nos lembrar da geração de alunos, que protestou nas ruas contra a ditadura militar,
enquanto nas televisões o povo assistia os Trapalhões.
Numa noite, resolveram fazer uma passeata, com
carros de som, bandeiras e microfones, que culminou num verdadeiro contágio
patriótico, quando os alunos da Faculdade de Direito chegaram. Infelizmente, o
protesto não durou muito. Quando o sinal tocou, a maioria voltou para suas salas,
inclusive eu. Afinal de contas, o que poderia eu fazer?
Meus pais, assim como a maioria brasileira, não
estavam entre os que lutaram contra a ditadura. Eles trabalhavam nas roças e a
única luta que travaram foi para dar uma vida digna para meus irmãos e eu,
driblando a inflação, a falta de ensino, médicos e até mesmo a fome.
Com tantas preocupações, ninguém nunca pensava no
que era voto, jornais, golpe militar, patriotismo ou protesto. Isso tudo era
coisa estranha ao cotidiano dos meus pais e da maioria da população brasileira.
Ninguém sabia que era preciso mudar o Brasil.
Ninguém sabia como mudar o Brasil. Acho que também é por isso que hoje, quando
há protestos, os “black blocks”
partem para a violência, do mesmo modo que partimos para uma crítica, sem
conhecimento de causa. O problema do Brasil está no brasileiro e na sua falta
de participação na construção desse país.
Minha geração ama Iron Maiden, Madonna, Beatles,
mas não tem a menor idéia de quem é Chico Buarque, Cartola ou Elis Regina;
idolatramos Harry Potter, Senhor dos Anéis, Cinquenta Tons de Cinza, mas não
lemos Ariano Sussuassuna, Cecília Meirelles ou Machado de Assis. Torcemos por
candidatos nas eleições americanas, mas somos incapazes de aprender a
fiscalizar os candidatos que elegemos e, no final de tudo, adotamos a postura
dos “black blocks” criticando e
agredindo o Brasil, sem ao menos conhecê-lo.
Penso muito nisso. Como podemos mudar algo que não
conhecemos? Por isso, hoje, decidi mudar o Brasil. Estou escutando mais MPB, lendo
livros e assistindo filmes de produções nacionais. Também resolvi fazer bem
diferente nas próximas eleições. Vou investigar os candidatos e estudar meios
de cobrar a realização de suas promessas.
Sim! Acredito que assim vou mudar meu país, pois
comecei a valorizar sua própria história. Não acho que estou sendo nacionalista
e não deixei de apreciar outras culturas. Só estou transgredindo o costume que
herdei: o de valorizar o resto do mundo, antes do meu país. Por isso digo que é
tempo de transgressão. É tempo de construir um país melhor, me tornando, antes
de tudo, um brasileiro melhor.
Silva Rumin
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