domingo, 9 de setembro de 2018

LEVIATÃ


Vejo-a em meus sonhos.
Desejo-a em todos os momentos,
irritada com meu estúpido coração,
e surpresa com meu próprio corpo.

Por que não tenho mais controle?
Estou em uma dor amarga,
sentindo a falta.
Mas de quê?
Você foi minha dádiva,
mas também uma maldição.
Deu-me migalhas de um amor,
que transformei em “felizes para sempre”.
Mas nunca fui seus planos...
Agora estou em uma terrível situação.
Amo um monstro.
Como lidar com isso?
Amar incondicionalmente,
alguém que nos abandonou.
E como ainda consigo amá-la,
eis minha incógnita.
Indago-me se um dia chegou a me amar.
Mas minha razão responde que “não”.
Você vive de quimera em quimera,
destruindo vidas, sem se importar.
Não fui a única.
Suas vítimas se empilham por aí,
como escombros humanos,
desvalidos pelo amor,
que você plantou e não ajudou a crescer.
Porque você mata...
Usufrui, ilude, engana, destrói...
Você é um leviatã,
que manipula a tudo e a todos,
por um capricho infantil...
Como posso conviver com isso?
Amar um monstro?
Disseram-me que o amor nos liga a Deus.
Mas que Deus é esse?
Não há atrocidade maior,
do que amar sem ser amado.
Não há dor maior, que decepção.
Não há desespero maior,
do que não poder ter aquilo que deseja.
E, ainda sim, masoquista involuntária,
ainda vejo-a em meus sonhos.
Os mais secretos...
Vejo-me saindo de um pesadelo;
com você em meus braços.
Mas acordo, triste, lamentando.
Você sempre fugiu dos meus braços.
E eu, tola que fui, acreditei...
Vi uma desmedida insegurança,
quando a realidade se fazia clara.
Eu amava um monstro,
fantasiado de fina flor,
que cometeu o abominável crime,
de cativar-me, sem responsabilidade,
pelo simples prazer de ter...

G. P. Silva Rumin

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