O olhar do garoto vagava por horizontes
desconhecidos através da janela de seu quarto naquela noite. Um vento gelado
soprava de algum lugar causando-lhe pequenos tremores, mas a vontade de
explorar o céu escuro da noite era muito maior que o incômodo do frio. Queria
contar as estrelas e, no recanto mais profundo de seus sonhos, desejava ir ao
espaço e viver como elas.
Um dia sua mãe havia contado que as estrelas eram
anjos criados por Deus para vigiar os meninos desobedientes. Mas Iago sabia que
toda essa conversa não passava de uma pequena “enganação” inventada pela mãe. Talvez ela tivesse medo que ele se
metesse em encrencas ou apenas desejava dar uma explicação qualquer. Mas para
ele aquela história estranha de anjo não fazia muito sentido.
Estrelas eram planetas? Quantas pessoas moravam nesses
lugares? Lá teria pipoca, chocolate e hambúrguer? Por que elas brilhavam tanto?
Por que elas só apareciam de noite?
Ele não sabia, pois seus pais diziam que ainda era
cedo para um garoto da idade dele ler coisas sobre uma tal de astronomia. Mas
Iago também não sabia direito o que era astronomia e, sem saber a razão, achava
que devia se tratar de um tipo diferente de escola, feita para astronautas.
Por muitas vezes se perguntava por que os adultos estavam
sempre prontos para responder às crianças: “você
é muito jovem para isso”. Será que seus avós agiam assim? Será que os pais
deles também? Iago fitava o negrume do céu, como se olhasse o mundo inteiro,
imaginando se mais alguém no universo estaria pensando naquelas coisas.
Um dia assistindo a televisão viu cenas estranhas e
horríveis de soldados arrastando pessoas e empunhando armas, que pareciam muito
perigosas, e perguntou à mãe se aquilo era de verdade ou se era uma brincadeira
nova que haviam acabado de inventar. Para seu assombro ela contou que aquilo
não era brincadeira, mas sim uma guerra que estava sendo travada num país
distante.
Uma guerra!! Ora vejam!! E pensar que os adultos
ficavam sérios quando escutavam essa palavra! Durante dias Iago meditou sobre a
guerra, pois não conseguia entender como adultos encaravam aquele tipo de coisa
como coisa de adulto...
Foi impossível não se zangar diante de algo tão
esquisito, pois se os homens grandes podiam se comportar daquela forma tão
feia, por que ele não poderia entrar na escola de astronomia para ser um
astronauta? Por que ele não podia saber mais sobre as estrelas?
No entanto Iago não conseguia convencer seus pais.
Então, todas as noites, antes de dormir permanecia assim, por horas a fio
contemplando as estrelas, contando quantas estavam piscando e buscando imaginar
quantos homens adultos, sob aquele negrume, estavam fazendo coisas feias pelo
mundo afora, como aquela tal de guerra, que ele tinha visto na televisão.
G. P. Silva Rumin
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