9 de julho de 2014. O
Brasil está amargo. O sonho de sermos campeões mundiais de futebol em casa foi
eclipsado por um vergonhoso 7 a 1. A Alemanha atropelou nosso time e
provocou uma espécie de ressaca coletiva: não somos mais o país do futebol.
Pode parecer
estranho, mas essa eliminação da copa me fez recordar outra derrota,
representada por esse feriado de 9 de julho.
Em 1930, Getúlio
Vargas liderou uma revolução, que culminou com um golpe de Estado, impedindo o
presidente eleito de tomar posse, assumindo a presidência da república. Com sua
máscara de pai dos pobres encobrindo sua ideologia fascista, Vargas governava o
país sem respeito à democracia, à constituição e à liberdade, enquanto levava a
cabo um governo provisório que parecia que nunca teria fim.
Em 1932, surge um
movimento em meio à Faculdade de Direito de São Paulo que exigia de Getúlio uma
nova constituição e a convocação de eleições. O movimento culminou com o
levante de São Paulo em armas contra o resto do país. Vargas foi o vencedor,
ganhando como troféu, décadas na liderança do maior período ditatorial desse país,
enquanto os paulistas amargaram um pequeno prêmio de consolação: um reles
feriado.
A verdade é que todo
ditador que passou por este país trazia no bolso um discurso fabricado, onde
mostrava um povo brasileiro rotulado de sofrido e humilhado, que precisava de
alguém para guiá-los e ampará-los. E o que isso tem haver com a Copa do Mundo?
Na realidade todo esse ufanismo sobre a seleção brasileira tem raízes nessa
crença de que somos vira-latas, quando comparados ao resto do mundo.
Podíamos ser um país
sofrido, injustiçados pelo mundo, humilhado pelos gringos, mas nos destacávamos
no futebol. E é por isso que nosso patriotismo sempre foi direcionado para o
futebol, pois ali acreditávamos que éramos diferentes: vencedores.
Mas a realidade que
nos é colocada nessa derrota para a Alemanha, trouxe à tona a verdade sobre nós.
Finalmente entendemos que não somos o país do futebol e os jogadores não
representam a pátria de chuteiras. Percebemos também que não somos um povo
sofrido e humilhado, como ressaltava os
discursos de Vargas e dos demais ditadores que governaram nosso país. Somos um
país que em tempo recorde organizou um grande evento e fomos campeões em elogios
por jornais de todo o mundo, que se encantaram com o Brasil e nosso povo.
A copa, antes de
ressaltar essa doutrina ultrapassada da “pátria de chuteiras”, mostrou ao
brasileiro sua real condição: a de que não somos nada diferentes dos demais
povos. Somos um país de milhões de possibilidades em aberto, esperando apenas
que nossa paixão, antes direcionada apenas ao futebol, crie novas oportunidades
e desbrave novos caminhos, seja na saúde, na política, na economia, na cultura,
na educação.
Que esse 9 de julho
seja sim o dia da derrota. Na história ele representou a derrota dos paulistas
na luta pela liberdade. Mas que após 2014 a derrota da seleção brasileira
represente a derrota de uma grande mentira, representada pela descrença de
nosso povo em si mesmo. Façamos disso um novo marco, que represente o início de
uma renovação na mentalidade de nosso povo, que sai da posição de criança
sofrida e desamparada, para um gigante na conquista de novos caminhos na
melhoria de nosso país.
Silva Rumin
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