segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O MEDO E O TEMPO

  São oito horas em ponto. Mal ligo o computador e já me sinto cansada.
 Uma enxurrada de desejos insanos me toma... Eu queria isso, queria aquilo... Mais liberdade, mais serenidade, mais grana, mais pessoas ao meu lado, mais,mais, mais e sempre mais... Só que toda essa querência me cansa.
  Uma pontada em meu rim diz: você tem medo. Ao menos é o que meu acupunturista diz.
  Problemas renais, são seus medos à tona. Medo de envelhecer, vendo a vida passar do alto de um prédio, cercada de janelas espessas de vidro, com milhões de projetos engatilhados, cujo esboço não vi ainda diante de meus olhos. Medo de não conhecer o amor. Medo de não ter medo. Medo de deixar a fera enjaulada sair.
  Quando dou por mim, passou uma hora. Já nem lastimo mais com essas querências que tanto me torturam. Da última vez que me senti assim, tinha uns 26 anos. Quando finalmente acordei, estava com 34.
  Não lembro o que perdi. Não lembro de comidas, cheiros, olhares ou pessoas. Parece que estive em um negro buraco, cercada por paredes enlodadas, escutando um estranho barulho de pessoas falando a distância.
  Outra fisgada nas costas e uma pressão na bexiga e novamente acordo, agradecendo por esta dor. Ela poupou-me de um novo buraco no tempo. Poupou-me de acordar daqui 10 anos, sem saber onde estou, com quem estou e o que devo fazer.
  Sem a embriaguez das ilusões e do pessimismo, fica mais fácil dirigir-se para algum lugar, mesmo que a curtos passos. Queria entender quem foi que inventou o medo, a tristeza e a solidão. Não pode ser Deus, afinal de contas, se Ele não sonhasse o universo não existiria; também não pode ser o homem, já que ele é o templo de Deus. O Diabo? Duvido. Esse é o sujeito mais sonhador que existe, afinal de contas, sonha em ser deus e levar consigo o homem. Não. Não sei quem inventou essa coisa negativa. 
  Mas o que importa? De fato quem inventou não importa. Livrar-se disso é preciso.
  Respiro fundo, sentindo outra pontada. Tomo mais água, estico as pernas e penso: ser feliz, de minuto a minuto, é a cura. E essa busca, é preciso...


Silva Rumin

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