quinta-feira, 31 de maio de 2018

É OUTONO


É outono.
Um vento gélido sacode o mundo,
espalhando folhas e nostalgia.
Ella Fitsgerald canta em minha vitrola,
tornando tudo mais bucólico.


Você vem à lembrança, insistentemente.
Não é minha vontade.
Desejo-a longe de mim.
Mas, como um fantasma,
vez ou outra você vem me assombrar.
Crio paisagens com minha imaginação.
Detenho-me em ver folhas rodopiando,
em meio a um crepúsculo modorrento.
Tento conter a sensação de vazio.
Mas tudo é saudade neste outono.
Nem mesmo as flores resistem,
ao contínuo fluxo dessa estação.
Florescem e morrem com rapidez,
do mesmo modo que meu amor.
Lido agora com as cinzas,
tentando varrê-las para longe de mim,
rezando para que o vento as leve.
Mas, ainda sim, você me assombra.
Instala, em mim, a angústia sufocante,
de desejar odiá-la com todas as forças,
mas falhar na maioria das vezes.
Mas é outono!
Tempo de todas as coisas morrerem,
as belas, as feias, as inúteis.
Não há sobrevida no outono.
Olho, novamente, o rodopio de folhas,
enquanto rezo para que o vento a leve de mim.
Porque é preciso matá-la dentro de mim.
É preciso o luto para esquecê-la de vez.
Mas, então, por que continua voltando?
Parece resistir a essa espécie de prenúncio,
Do inverno prestes a chegar.
Um inverno de vidas;
um inverno da alma.
Mas ainda é outono...
Onde tudo começa a fenecer,
mesmo lutando para continuar respirando.
E continuo respirando,
calando lágrimas e tormentos,
enquanto rezo resoluta.
Peço a Deus que me cure.
E que os ventos do outono possam me sacudir,
arrebatando esse amor para longe de mim.
G. P. Silva Rumin

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