Espero que gostem do início dessa saga incrível de Adriana de Owen.
Boa Leitura!
O EMBATE NA TERRA DOS MORTOS
(Iron
Maiden – Transylvania)
Reino
dos Mortos. Terras Inferiores. Diziam que no início
dos tempos o mundo era uno, onde homens, deuses e criaturas extraordinárias
como os dragões viviam harmoniosamente. Mas não se sabe desde quando ou o que
provocou a divisão que conhecia no agora, mas de fato, sabia que à parte do
Reino dos Homens, havia outros mundos convivendo paralelamente.
O
Reino dos Mortos, ou Plano Espiritual, como chamavam alguns, era o reino para
onde os espíritos partiam após a morte no Reino dos Homens, ou Plano Material. A
gigantesca comunidade em que vivia, dividia-se em Terras Inferiores ,
Planícies Intermediárias e Terras Altas. Cada região era dividida em
conformidade com o tipo de espíritos que as habitavam. Uma divisão
rigorosamente guardada, cuja modificação era quase impossível.
Sabia,
de modo vago, que no mundo dos homens, já haviam construído máquinas capazes de
voar ou de levar as pessoas de um local ao outro em poucos minutos, mas ali, o
tempo jamais passava. Um dia lhe disseram que essa sensação de continuidade tinha
raiz na proporção de apego à vida terrena que os espíritos mantinham, mas
particularmente, nunca havia pensado profundamente sobre tal assunto.
Um
relâmpago riscou o céu, despertando-o de seus pensamentos. Houve um clarão no Vale Errante, seguido de um estrondoso
trovão, deixando homens e cavalos apreensivos. Muito embora estivesse frio, o
general Ethiene estava suarento por baixo da armadura reluzente, enquanto via
seus milhares de soldados alinharem-se à sua retaguarda. O barulho do trote de
cavalos se aproximando à distância era prelúdio de confronto em breve.
Ao
longe, vestindo a armadura cravejada de dragões em alto relevo, Robert de Owen,
gesticulava para que os soldados permanecessem em alerta, enquanto
enfileiravam-se, tomando as respectivas posições de combate. Na escuridão que
atingia o vale, conseguia distinguir um a um os primeiros combatentes, com suas
lanças levemente inclinadas.
Respirou
fundo. Sabia exatamente como agir. Ethiene de Bricassat ergueu o braço
esquerdo, saudando o oponente, que respondeu com a mesma cordialidade. “Talvez seja possível um diálogo” pensou
involuntariamente. Segurou a rédea,
dispensando acompanhantes, o que foi imitado por Robert. Já não sentia medo da
morte, pois de fato estava morto, ou ao menos seu corpo carnal. Temia apenas a
derrota; temia a prisão eterna naquele lugar frio e escuro.
Por
instantes que pareceram eternos os generais se encararam. Homens cochichavam em
ambos os lados, enquanto alguns relinchos cortavam aquela pretensa discrição.
Havia temor e respeito entre eles, por isso, em sinal de amizade, retirou o
pesado elmo, deixando os cabelos negros e encaracolados à mostra.
_
Salve Robert! _ saudou.
_
Salve! _ respondeu também retirando o capacete.
_
Eis os termos da Casa de Bricassat: Adriana de Owen deve ser liberada
imediatamente para retornar ao ceio da família dos Owens e para que possa
conhecer nosso herdeiro.
_
A Casa de Owen não pode permitir que Adriana seja liberada... _ respondeu
solene _ A herdeira estaria correndo grande perigo ao retornar à casa da
família e, principalmente, se assumir a posição que ocuparia por direito de
nascença... Devem encontrar outra consorte para casar seu herdeiro... _
explicou.
_
Adriana de Owen e o herdeiro dos Bricassats assumiram de comum acordo, antes de
nascerem no mundo dos homens, que cumpririam a missão de resgatar a dívida que
Mirian de Owen assumiu... _ hesitou tentando não demonstrar emoção _ ...
assumiu por abandonar marido e filho, rompendo o casamento entre as casas, sem
nenhum motivo maior... Ela violou a lei e pelo elo do casamento, os herdeiros
desta geração devem resgatar este débito... permitindo que todos nós possamos
ser transferidos para as Terras Altas!
_
O acordo que celebramos... _ baixou os olhos envergonhado, sem saber ao certo
como justificar aquela quebra de contrato _ Ethiene... Dei-lhe minha palavra de
nobre, que protegeríamos a união de nossos herdeiros a qualquer preço... Mas,
infelizmente, por ordem de antepassados das Terras Altas, Adriana e seu
herdeiro não podem se encontrar... Ela corre risco... e seu herdeiro também...
Não podemos cumprir o acordo...
Fitou-o
com perplexidade, pois quem em sã consciência ousaria violar um pacto com
aquele teor? Todos que estavam presos naquele cantão do Reino dos mortos
sabiam, ou ao menos tinham uma noção vaga, que seus deméritos na Terra dos
Vivos geravam dívidas, que podiam ser resgatadas através de seus descendentes.
O não cumprimento contribuía para que eles ficassem presos indeterminadamente
no Plano em que se encontravam. Violar um pacto, naquele momento, seria
prendê-los por tempo indefinido naquele nível! Um nível onde só havia guerra,
dor, fome... sofrimentos!
_
Isso é um ultraje a todos nós! _ berrou _ Estamos presos nesse lugar...
enjaulados como animais... O casamento de ambos encerra o débito que nos lançou
a este inferno... não somente minha Casa,
como a sua! Exijo o cumprimento do acordo!
_
Neste caso... _ tornou a vestir a pesada couraça _ Não há condições de
diálogos... Cumpro ordens superiores e não tenho autonomia ou poderes para desrespeitar...
Se é a guerra que deseja... lembro que aqui... não há mortes... só a dor...
_
Que assim seja por culpa dos Owens! _ disse secamente.
_
Não! Será assim por teimosia dos Bricassats!
Ethiene
fechou o rosto enquanto cavalgava de volta a seus homens, com o braço
levantado, indicando que tomassem posições. Arqueiros postavam-se à frente;
cavalaria circundava o agora campo de batalha, armando um possível cerco para
impedir que inimigos escapassem do embate; homens armados com espadas, lanças e
machados compunham a grande massa que faria o corpo a corpo.
Com
um grito gutural o general determinou o ataque. Uma massa disforme de homens
gritando de ódio e de dor se enroscaram pelo Vale Errante, se ferindo mutuamente. Ganharia aquele que desistisse
primeiro e nenhuma das Casas dava mostras de que hastearia a bandeira branca. A
guerra entre Owens e Bricassats havia sido declarada nas Terras Inferiores do
Reino dos Mortos.
G. P. Silva Rumin
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